quinta-feira, 9 de outubro de 2008

colocou o tapete pra lavar, a poeira criara uma nova textura por cima das costuras revelando outros desenhos que ela já até havia se acostumado. mesmo assim, era precisa lavá-lo e levou até a lavandeira. depois de mil recomendações, voltou pra casa. levou um susto ao entrar na sala, parecia que aquele lugar não a pertencia, ou era ela quem não fazia mais parte. fazia tempo que o tapete reconfigurava aquele espaço, escondendo o piso que revelava tantas lembranças. paralisada, ela mapeava com o olhar cada azulejo, cada traço que formava seu adormecido chão de estrelas. lembrou do tempo em que a paciência lhe fazia passar noites a dentro recortando revistas, papéis e palavras que vestiam banquinhos, caixas e cartas, que ganhavam vida e eram divididos entre amigos e amantes. lembrou também do cheiro do verniz, do café forte que a mantinha acordada pra suas idéias e da ursa maior que cuidava dos seus sonhos. uma brisa que escapou pela fresta da janela tocou seu rosto e a despertou, trazendo foco aos seus olhos perdidos. percebeu o quanto era bom e ainda poderia ser. coragem.


lembrar: beth gibbons.

Um comentário:

Luana Cavalcanti disse...

texto lindo, meu amor.
de uma tenacidade sutil do começo ao fim.

lindo!