domingo, 28 de dezembro de 2008

bula

tratamento para cor de pele avermelhada-de-paixão. se coçar, pior fica. remédio é esfregar o local, três vezes ao dia, com o tal bicho peçonhento. com um mês, já é notável o embranquecimento do local e o incômodo da irritação diminui. então, é hora de suspender o tratamento. os efeitos colaterais pós-medicação que variam entre sensação de perda, vazio e infelicidade, chegam a durar cerca quinze dias. depois, você se sentirá aliviado e seu organismo estará temporariamente imune a reincidências.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

concordo.

"coincidência é uma maneira que os caretas escolheram de dizer pro mundo
que não existe sonhos nem mágica"
f.diaz

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

se?

se gritar pra dentro alguém escuta?
se olhar?
se perder?
se achar.

domingo, 30 de novembro de 2008

...

abriu a gaveta e encontrou um pedacinho de solidão que já nem lembrava mais existir
desabotoou o vestido e costurou-o ao lado
do peito esquerdo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

de malha branca

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas. Que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia; e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre, à margem de nós mesmos.

fernandopessoa




sexta-feira, 14 de novembro de 2008

anonao. não.

já não sei dizer sim tão facilmente.
são outros tempos conjugados.

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.
b.


telefone de lagosta. ventilador de penas. rasgo no olho pra ver o cheiro colorido do arco-iris.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

to do music: scissors

Sounds so absurd Haven't had a dream in a long time it's my 52 favourite thing if I come and hold you now you got the glue Do you like pretty things? Life goes easy on me it’s the storm that i believe in There's no guarantees Go or go ahead and surprise me Except the little fish, I'll try the things you'll never try I've lost my words There's a lot to be done while your head is still young Here I'm alive, everything all of the time Big nothing

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

colocou o tapete pra lavar, a poeira criara uma nova textura por cima das costuras revelando outros desenhos que ela já até havia se acostumado. mesmo assim, era precisa lavá-lo e levou até a lavandeira. depois de mil recomendações, voltou pra casa. levou um susto ao entrar na sala, parecia que aquele lugar não a pertencia, ou era ela quem não fazia mais parte. fazia tempo que o tapete reconfigurava aquele espaço, escondendo o piso que revelava tantas lembranças. paralisada, ela mapeava com o olhar cada azulejo, cada traço que formava seu adormecido chão de estrelas. lembrou do tempo em que a paciência lhe fazia passar noites a dentro recortando revistas, papéis e palavras que vestiam banquinhos, caixas e cartas, que ganhavam vida e eram divididos entre amigos e amantes. lembrou também do cheiro do verniz, do café forte que a mantinha acordada pra suas idéias e da ursa maior que cuidava dos seus sonhos. uma brisa que escapou pela fresta da janela tocou seu rosto e a despertou, trazendo foco aos seus olhos perdidos. percebeu o quanto era bom e ainda poderia ser. coragem.


lembrar: beth gibbons.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

pintura a óleo.

olhos fechados e teu indicador a desenhar o meu rosto. desconfio estar sendo feita de laranja.
primeiro, a sobrancelha em uma camada fina e fria que desce pelo nariz,
refazendo os contornos, eternizando meu meio-sorriso, até a boca. pausa.
depois, pescoço, ombros, e, espalhando-se pelas costas, revela curvas, arrepios e asas.
não resisti. um dia volto.




caixa de hai kai:
"vôo de borboletra
do mundo das coisas
pro mundo das letras"

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

quem?

ainda dança.

No canto do cisco
No canto do olho a menina dança
Dentro da menina
Ainda dança

E se você fecha o olho a menina ainda
Dança dentro da menina
Ainda dança
Até o sol raiar
Até o sol raiar
Até dentro de você nascer
Nascer o que há

baby consuelo.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

quer?

quer ser meu
parzinho

pra acertar teu passo com o meu
nas danças do cotidiano?

sexta-feira, 27 de junho de 2008

do compartilhar.

dividimos o mesmo céu, o mesmo sol e as vontades de acontecer.

...

na mesa da biblioteca, escrito de rosa e azul:
life is rara

...

já tenho os botões, me falta a linha e o tecido para costurar.
do baú que me pertence, buscarei as linhas que guardo.. as dos sonhos, das razões, dos raciocínios, das virtudes, dos amores.. desse emaranhado que vive ali, que vivo aqui, vou unir com os pontos de agulha os retalhos, afrouxando as tensões, as preocupações desnecessárias e apertando o pulso pra verificar o coração que pulsa e o sangue que corre. vou deixar a cargo do destino os tecidos que irei pintar os infinitos percebidos e os que constantemente me definem.

...

a partir
a partida
a partir dai

segunda-feira, 2 de junho de 2008

a grande borboleta, caetano.

A grande borboleta
Leve numa asa a lua
E o sol na outra

E entre as duas a seta

A grande borboleta
Seja completa-
Mente solta

sexta-feira, 9 de maio de 2008

retornando ao céu. 
aos poucos. 


passaria as páginas das agendas, dos calendários e acertaria os ponteiros do relógio para o dia da sua vinda, que tanto custa a chegar. nunca o perto pareceu tão longe. enquanto isso, por aqui, todas as músicas são para você, até as mais bregas, aquelas em que a gente nunca admitiria gostar, mas que saem pela boca facilmente embaixo do chuveiro. cheguei a pensar em reclamar ao tempo essa demora, mas se for para fazê-lo, prefiro pedir para que ele pare enquanto por aqui você estiver. 




sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

..palomilla..

"Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor
A cor é que tem a cor das asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor."

[Alberto Caeiro]

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

que venha.

na contagem regressiva para novos começos, sou guiada pela vontade de arregalar os olhos e enxergar além da superfície, tirando a embalagem para absorver o conteúdo das coisas, fuçando cada fresta que aparecer no caminho. anseio por descobrir novas cores e poder perceber as nuances sem pressa, mas com intensidade. quero abrir as narinas e encher os pulmões de coragem para provocar meus limites, propor-me a desafios e expirar o ar que leve qualquer medo para bem longe. depois de sentir o cheiro, quero provar dos mais variados temperos. entre os dentes, quero mastigar devagar e distinguir cada sabor e textura. quero ouvir: os barulhos das cidades, os sons de suas ruas e de seus transeuntes. quero música, mas é muita, para fazer o corpo dançar, sacudir a alma e suar, que é para ficar mais leve, levinha. com os pés no chão, quero pegar impulso e pular o mais alto possível, para alcançar as estrelas desse novo céu que estou prestes a descobrir.

...


do tempo, [d]as vontades.

da parede, uma página do calendário destacável cai.
e lá se vai mais um dia. é um dia a menos e um a mais.

...